or oPortugal tem ainda um longo caminho na implementação da IA ao seu serviço. As conclusões versam do relatório AI For Good Lab da Microsoft, que acaba de divulgar a 1ª edição do AI Diffusion Report: Where AI is most used, developed and built. Iniciativa que analisa o impacto, a distribuição e a percentagem de adoção da tecnologia a nível mundial.
O relatório revela que Portugal ocupa o 20.º lugar entre os países europeus com maior taxa de adoção de Inteligência Artificial (IA). Além disso, surge na 35.ª posição a nível global. Aliás, contando com 22,4% da população ativa a utilizar ferramentas de IA no seu dia a dia.
Em primeiro lugar, esta realidade nacional enquadra-se num contexto global marcado por uma adoção massiva e muito rápida desta tecnologia de uso geral, que conta com uma taxa de adoção superior à da internet, do computador pessoal ou até do smartphone.
Assim sendo, para acompanhar esta transformação, o relatório apresenta três índices que permitem compreender o estado global da IA:
Em conjunto, estes indicadores revelam não apenas quem está a construir IA. Porém, quem pode efetivamente beneficiar dela. Ora, sendo que o impacto da tecnologia será medido não pelo número de modelos produzidos, mas pela sua capacidade de gerar valor real para a sociedade.
A IA é a mais recente, e talvez a mais poderosa, tecnologia de uso geral do nosso tempo. Em menos de três anos. São mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo utilizaram esta tecnologia, e nenhuma outra tecnologia na história se disseminou tão rapidamente.
No entanto, por detrás destes números impressionantes, começam a surgir os padrões de difusão desigual e Portugal não é diferente.
Em primeiro lugar, a difusão da IA está fortemente correlacionada com o Produto Interno Bruto (PIB) dos países. Desse modo, refletindo desigualdades estruturais entre o Norte e o Sul Global.
A adoção da IA assenta em pilares estruturais chamados “blocos fundamentais” da IA, que explicam as disparidades na sua difusão. A saber, o acesso fiável à eletricidade, presença de centros de dados, conectividade à internet. Aliás, bem como competências digitais e disponibilidade de conteúdos em línguas locais.
Por isso, a sua adoção é mais lenta onde estas bases não existem, sendo que quase quatro mil milhões de pessoas. Aliás, cerca de metade da população mundial, ainda não têm os requisitos básicos para utilizar IA.
Desse modo, a taxa de adoção no Norte Global é aproximadamente o dobro da verificada no Sul Global, com disparidades acentuadas em países com PIB per capita inferior a 20.000 dólares. Porém, em algumas regiões da África Subsariana e da Ásia, a taxa de adoção é inferior a 10%.
Em contraste, países que investiram nestes pilares, como Singapura, Emirados Árabes Unidos, Noruega e Irlanda, destacam-se pela elevada adoção da IA. Aí, com mais de metade da população em idade ativa a utilizá-la. Desse modo, demonstrando que o acesso à tecnologia, à educação e a políticas coordenadas pode acelerar significativamente a sua utilização.
A ausência de eletricidade fiável continua a ser uma barreira crítica, especialmente em regiões da África Subsariana, onde se concentra 85% da população mundial sem acesso à energia, o que limita a sua capacidade de participar na economia digital.
Aliás, a proximidade aos centros de dados também influencia diretamente a experiência do utilizador e a eficiência das aplicações de IA, potenciando respostas mais rápidas e uma redução dos custos associados, sendo que a maioria destas infraestruturas está localizada no Norte Global, com os Estados Unidos e a China a representarem cerca de 86% da computação global.
Para além disso, o acesso à internet, por sua vez, revela-se um fator decisivo: em países como o Zâmbia, a taxa nacional de adoção de IA é apenas de 12%, mas sobe para 34% entre os utilizadores com ligação à rede, revelando que a conectividade é um passo essencial para participar na economia da IA.
Em suma, para que a IA seja verdadeiramente inclusiva, é essencial garantir que as pessoas têm competências digitais e técnicas que lhes permitam utilizar estas ferramentas de forma produtiva e responsável. Sem esta base, a IA corre o risco de aprofundar desigualdades, tornando-se acessível apenas a uma parte da sociedade e excluindo quem não domina o mundo digital.
Além das infraestruturas e competências, a inclusão linguística é essencial para garantir que a IA beneficia todas as comunidades. A predominância do inglês nos dados que alimentam os modelos de IA exclui milhões de pessoas que falam línguas com poucos recursos digitais. Países com línguas subrepresentadas na web apresentam taxas de adoção até 20% inferiores, mesmo com níveis semelhantes de PIB e conectividade. Esta lacuna não é apenas técnica, e determina quem pode aceder aos benefícios da IA em áreas como educação, saúde, agricultura, finanças e serviços públicos.
A evolução da IA, enquanto tecnologia de uso geral, é ainda impulsionada por dois grupos fundamentais: os construtores e os utilizadores. Do lado dos construtores, destacam-se dois tipos de organizações: construtores frontier e construtores de infraestrutura.
Os construtores frontier são organizações pioneiras responsáveis pelo desenvolvimento dos modelos que expandem os limites da tecnologia de IA. Estes incluem os principais laboratórios de IA que desenham modelos fundacionais como OpenAI, Microsoft, Anthropic, Google, Mistral, DeepSeek, Alibaba, entre outros e a comunidade open-source, que contribui com versões acessíveis e personalizáveis. Para calcular o índice frontier a Microsoft utilizou uma pontuação de benchmarks que avaliam competências como programação, raciocínio, conhecimento e seguimento de instruções, concluindo que os Estados Unidos e a China lideram o ranking de países com maior número e melhor desempenho de modelos de IA frontier.
Com efeito, os construtores de infraestrutura, por sua vez, asseguram os sistemas físicos e energéticos que permitem treinar e executar modelos. Aqui, aliás, com destaque para os centros de dados, e sistemas de conectividade e energia, garantindo a capacidade de computação e a conectividade necessária para escalar a tecnologia.
Por fim, já os utilizadores são aqueles que aplicam a tecnologia para resolver problemas reais em diferentes contextos, desde cidadãos a empresas e governos. Aliás, para medir a difusão da IA junto destes, a Microsoft recorreu a telemetria agregada e anonimizada de mais de mil milhões de dispositivos Windows. Esta, complementada por dados externos, para estimar a prevalência da utilização de IA em diferentes regiões.
Em suma, esta abordagem permite acompanhar a adoção real da tecnologia e identificar onde estão a surgir os maiores impactos. Isto, note-se, de modo a tornar a IA um recurso mais acessível para todos, tendo Portugal ainda bastante margem para melhoria.
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